Os nossos porquês.

Qual é o sentido da vida? Por que somos quem somos e escolhemos os caminhos que escolhemos? Por que alguns já vivem uma vida plena de sentido e amor, enquanto outros continuam vivendo uma existência inteira de lamentações, frustrações e arrependimentos? Por que uns são bem-sucedidos e amam o que fazem, enquanto outros experimentam o fracasso por mais vezes que gostariam e sentem-se presos a uma rotina miserável e sem propósito? Por que a felicidade só parece existir para poucos escolhidos? Por que tantas doenças do corpo e da alma, tantas rachaduras, tantas cicatrizes? Será que é preciso experimentar a dor para evoluir? Será que é preciso perder para aprender a valorizar? Será que é preciso perder-se de si mesmo para, de fato, descobrir quem verdadeiramente é? Quem disse que só existe um caminho? Que só existe uma maneira? Que o impossível está aí para provar que nem sempre querer é poder? Quem foi que disse que existe o impossível? Afinal de contas, por que estamos aqui?
Quanto mais perguntas eu faço sobre o sentido de tudo e sobre toda essa loucura chamada existir, mais chego à conclusão de que o desperdício da vida está no amor que não doamos, nas oportunidades que não agarramos, nos sonhos que não vivemos e nos riscos que não corremos por puro medo de fracassar. Quanto mais reflito sobre a vida, mais me ocorre a ideia de que, vulneráveis, somos ainda mais fortes do que imaginamos. E que todas as respostas que procuramos já estão dentro da gente, por mais que a gente não consiga perceber ou enxergar com tanta clareza assim.
Quantos não são os que vivem uma vida inteira dedicada a agradar e a reafirmar-se perante os outros. Por trás dos sorrisos, quantas não são as lágrimas escondidas. Por trás das palavras doces, sabe-se lá a profundidade das mágoas e o amargor das feridas.  Na busca de viver o script da vida, de seguir o roteiro, de fazer bonito, quantos não são os que colecionam arrependimentos, tristezas e pesares pelo caminho. Na busca pela aceitação, pelo sucesso sem propósito, pelo modelo ideal de ser e viver, quantos não são os que não vivem plenamente, os que travam verdadeiras batalhas interiores, os que esboçam felicidade, ousadia e popularidade para esconder decepções, medos profundos e solidão.
Solidão.
Quantos não toleram a convivência com o próprio eu? Quantos não são os que vivem cercados de multidões, mas que se sentem, no entanto, extremamente sós? Quantas não foram as tentativas frustradas de ser quem não é, conviver com quem não quer, comprar o que não precisa e defender o que não acredita por medo da solidão? E quantas não foram as vezes em que, mesmo aceitos, mesmo parte, nós nos sentimos completamente perdidos, isolados e sozinhos?
A verdadeira solidão não está no silêncio ou na ausência de companhia. A verdadeira solidão está na mentira com que escolhemos viver a nossa própria vida, no arrastar de uma situação indesejada, na convivência com quem só nos julga e critica, na tentativa de ser aceito a todo custo, de dançar conforme a música, de agradar.
A verdadeira solidão não está num quarto escuro, mas no real motivo que nos levou a fechar a janela. Na falta de companheirismo, de propósito, de sentido e, sobretudo, de presença na vida. A verdadeira solidão está no não estar. No não estar de corpo, alma e coração. No não estar de verdade. Na ausência da presença. Na distração e no pouco caso com que escolhemos tratar o que de realmente importante existe no mundo que nos cerca.
Do mesmo modo, a felicidade não está lá fora, não. Não ali, onde tudo precisa ser armado na tentativa de mostrá-la para o mundo, mesmo quando o coração está machucado e a voz já não consegue sair. A felicidade está no lado de dentro, nos pequenos momentos, no sorriso sincero, na escolha consciente que nos faz melhores perante nós mesmos.
Eu posso estar sozinha e, ao mesmo tempo, me sentir preenchida, completa e inteira de uma maneira plena, de um jeito que nunca experimentei. E também posso ter o outro como companhia e me sentir cada vez mais só.
Tudo – tudo mesmo! – depende da verdade com que construí o meu mundo interior.
Quem se descobre de verdade, se aceita, se respeita e se ama do jeito que é jamais experimentará solidão. Porque seja qual for a circunstância, o julgamento, a grande perda ou o grande pesar, quem entende que o mundo todo está dentro de si  sempre terá companhia.
O eu. E a paz.

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