Como domar os parentes

Como domar os parentes

Bebê novo à vista é sinônimo de familiares e amigos em polvorosa, todos ansiosos por pegar no colo e, claro, dar mil sugestões sobre como os pais devem cuidar e educar a criança.

Por Maria Luiza Lara
Foto: Beatriz de 6 meses, filha de Luana da Rosa Linck

Em meio à emoção e alegria que invade a vida de quem acabou de dar à luz, outra invasão pode se somar aos desafios do pós-parto – que não são poucos, indo desde o cansaço físico e a recuperação do corpo até o bebê que clama, ou grita, por leite e atenção. É que, nessa fase, amigos, parentes e agregados costumam compor uma história à parte. Seja porque pipocaram na sua casa, passando o recém-nascido de mão em mão (será que lavadas com água e sabão?), seja porque se intrometeram no seu modo de cuidar da criança.

Como interromper esse processo e impor limites sem ser grosseira? Uma consultora pessoal, uma terapeuta familiar e quatro mulheres e mães que driblam com maestria essas situações respondem.
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1. Visitas que acampam na maternidade


Existem, sim, várias possibilidades para escapar ilesa desse incômodo. Quando as visitas em questão são pessoas mais íntimas, tudo fica mais fácil. “A mãe pode se posicionar e dizer com todas as letras que está muito cansada. Caso se sinta inibida, a alternativa é falar que quer se deitar um pouquinho ou até mesmo fingir que dorme”, aconselha Heloísa Sundfield, da Help Personal Assistant.

Cada maternidade tem uma organização e, caso os visitantes se enquadrem na categoria “sem noção”, você pode lançar mão da equipe de enfermagem e combinar para que esses profissionais interfiram, citando ordens médicas, sugerindo um rodízio para não ficar muita gente no quarto ou até limitando o tempo de visita. Hoje em dia, é comum que o recém-nascido fique no quarto, mais um motivo para evitar essa aglomeração.

É bem verdade que há famílias nas quais as convenções sociais tomam o lugar de uma boa conversa. Nesse caso, a sinceridade pode ser recebida como uma agressão. “De qualquer forma, é direito de qualquer pessoa que passou por uma cirurgia poder descansar e restabelecer suas energias”, diz Angela Martins, terapeuta familiar sistêmica. “Assim, a mulher pode simplesmente fechar os olhos e permitir-se o descanso necessário”, arremata.
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2. Em casa: sala sempre cheia, e até tarde


A euforia familiar continua por semanas depois do nascimento, prolongando alguns inconvenientes. Foi o que aconteceu no caso de Luana da Rosa Linck, professora e mãe de Beatriz. “Tudo o que eu queria era paz, pois mal caminhava reta, não podia rir, tossir e sentar sozinha, tudo doía. E meu apartamento, que é bem pequeno, foi tomado por mais de dez pessoas”, ela conta. Está cansada? Não dormiu? Peça licença e explique. “É uma atitude delicada, coerente e natural”, defende Angela Martins.

O companheiro tem uma função essencial caso a mulher se sinta intimidada em falar para os presentes que precisa descansar. Deixe o “serviço sujo” de dispensar convidados para ele. “Meu marido dizia que eu acordava várias vezes à noite e começava a contar como eu estava cansada. Na maioria das vezes, funcionava e, quando não, a pessoa acabava se tocando de tanto que eu bocejava”, conta Deborah Tavares Marinho, funcionária pública e mãe do Bernardo.

Luana Linck se recorda ainda do quanto a incomodava ver seu bebê, ainda pequeno, passar de mão em mão. “Sem falar das fotos com flashes”, conta. Como se trata de um recém-nascido, dá para compreender a sensação que tal situação provoca. Afinal, a criança, ainda com o sistema imune imaturo, não deveria ser acostumada a ficar o tempo todo nos braços de alguém. “Você precisa criar as próprias regras. Por exemplo: o bebê só fica no colo quando é hora de mamar. Fora isso, ele fica no berço”, defende Heloísa Sunfeld. Se necessário, repita as recomendações do pediatra. Se você usar um tom cordial e educado, tudo pode ser dito sem maiores preocupações. “Sempre que essas colocações são feitas com amor, elas não transmitem indelicadeza, e sim proteção, o que é muito natural e aceitável”, sugere Angela Martins.
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3. Hóspedes não solicitados


Outro fato reincidente, especialmente se o bebê é o primeiro da família, é a sogra ou outro parente querer se mudar para a casa da nova mãe sob o pretexto de ajudar a cuidar do recém-nascido. E, não raro, sem que essa ajuda tenha sido solicitada. “Mais uma vez, a sinceridade pode doer, mas encurta os caminhos do mal-estar que fica presente nas relações quando jogamos com falsidade”, explica Angela Martins. É fundamental manter a franqueza. Essa atitude é também uma forma de proteção para estabelecer limites que serão importantes ao relacionamento familiar no futuro.
Quando o hóspede é a sogra, o ideal é passar a bola para o pai. Afinal, mãe é mãe. “O risco de ela se ofender com algo que ele diga com certeza é menor do que com algo que eu diga”, defende Priscila Daniele Manchenho, engenheira agrônoma e mãe do Leo. Faça um combinado: cada um fala com a respectiva mãe.
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4. Palpites sem fim


“A Beatriz é primeira de tudo das duas famílias: sobrinha, afilhada, neta, bisneta. E aí surgiu o grande problema: um bebê depois de anos sem nenhum”, conta Luana Linck. É importante ter em mente que as pessoas querem mesmo é ajudar. Mas isso não significa que a mãe não possa se impor – ela deve fazer isso. E, vale lembrar mais uma vez, tudo pode ser dito desde que com jeito e delicadeza. “É difícil falar não, mas noto que, se não o fazemos, ninguém nos deixa tomar as decisões. Somos pais, assim como eles foram, e vamos errar e acertar”, analisa a mãe de Beatriz.
Priscila Arruda Prado, analista de sistemas, conta que cansou de escutar da avó sobre o quanto é importante agasalhar o pequeno. “O pediatra nos aconselhou justamente a não agasalhar muito o Theo”, explicou ela. E a réplica que recebeu, para sua revolta, foi: “Fica escutando esses médicos, fica!”. O ideal é que a mãe escute os palpites, sem contrariar ou enfrentar, mesmo que não acate as sugestões. Se a conversa se estender, mude de assunto. Uma dica: encoraje essas pessoas a falar sobre a experiência delas como mãe. “Certamente, elas terão prazer em contar suas histórias e isso mudará o foco da conversa”, aconselha a terapeuta Angela Martins.
Priscila considera transferir a responsabilidade para o médico: “Estou pensando em levar minha avó junto na consulta ao pediatra para ela escutar tudo o que ele tem a dizer”. Não deixa de ser uma boa ideia, não?
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5. Comentários que incomodam e magoam


O pós-parto é um momento de desafios e mudanças. A sensibilidade de cada mulher é um fator que varia e pode colaborar para o desconforto. “Não há por que se melindrar com comentários sobre as feições do bebê ou com comparações, mas, caso isso aconteça, seja sincera”, aconselha Heloísa Sundfeld. A participação do pai da criança é fundamental. Não para fazer todas as vontades da mãe, mas para ajudá-la a enfrentar todas as situações e saber se posicionar. “Quando a mãe consegue ignorar e não valorizar essas opiniões, fortalecendo o que ela mesma pensa, estará protegida das inconveniências alheias”, explica Angela Martins.
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6. Parto normal versus parto cesariano
7. A expectativa, o julgamento e a realidade
8. A obrigação de amamentar
9. O cardápio da mãe
10. O cardápio do bebê



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