Reprodução assistida: auxílio psicológico é fundamental

Recorrer a técnicas de reprodução assistida para realizar o sonho de ser mãe pode mexer com as emoções da mulher muito mais do que se imagina. O abalo ao se descobrir infértil e o grau de estresse são tão grandes que, segundo pesquisas recentes, podem ser comparados ao de portadores de aids ou câncer. Por causa disso, o apoio psicológico se faz indispensável para preservar o bem-estar do casal e prepará-lo para o resultado, seja ele qual for. Médicos e psicólogos dão conselhos valiosos para acalmar os ânimos nessa fase conturbada e manter o equilíbrio


Por Lia Scheffer

1 - Evite a pergunta “de quem é a culpa?”

Segundo Hilton Pereira Cardim, professor adjunto da Universidade Estadual de Maringá e diretor da Fertclinica, engana-se quem pensa que a infertilidade acomete apenas o sexo feminino. “Dos 15% das pessoas que sofrem para ter um filho, 40% são mulheres, 30% homens e, em cerca 30% dos casos, o problema vem de ambos os lados”, diz. “Ou seja, o número de homens e mulheres inférteis é praticamente o mesmo.” Independentemente do motivo, é importante que o casal não inicie acusações do tipo “de quem é a culpa?” porque, além de abalar a relação, esse conflito prejudica o tratamento. “A falta de compreensão de ambas as partes pode gerar muitas brigas no casamento. É essencial que os parceiros permaneçam em equilíbrio para que o auxílio médico surta efeito”, orienta o especialista.

A ânsia por engravidar leva as mulheres a monitorar o período de ovulação e até mesmo a programar as relações, atrapalhando a sexualidade do casal. Soma-se a isso a diferença de comportamento entre os parceiros – enquanto eles têm uma atitude aparentemente passiva, elas costumam ficar irritadiças e ansiosas. “Muitas vezes, o homem adota uma postura mais calma para tentar passar tranquilidade e proteger a companheira. O problema é que isso pode deixar a parceira nervosa. Ela enxerga essa atitude como um comportamento de quem não está nem aí”, observa Cardim. Já para seu colega Gilberto da Costa Freitas, também da equipe do Pérola Byington, a crise matrimonial denuncia ainda outros erros. “Quando o relacionamento está desgastado, percebemos que a tentativa de conceber um filho serve apenas como uma estratégia para resgatar a harmonia perdida e, aí, o fracasso é certo”, alerta.
 
2 - Fuja do pensamento do “por que justo eu?”


Imagine a frustração de quem busca engravidar repetidas vezes sem sucesso. Quando as tentativas ultrapassam o período de um ano – prazo que, de acordo com critérios da Organização Mundial da Saúde, um casal já pode ser considerado infértil –, é preciso recorrer à ajuda especializada. “Essa mulher atravessa uma fase muito delicada após tentar realizar o sonho de ser mãe durante um ou dois anos sem êxito. Além de ansiosa, ela passa, a partir do início do tratamento, a fazer uso de uma série de hormônios, que podem deixá-la à beira de um ataque de nervos”, explica Marcio Coslovsky, diretor médico da clínica Huntingtom Medicina Reprodutiva, no Rio de Janeiro. Durante esse período, é comum que a candidata à mamãe chore por qualquer bobagem e sinta-se triste, ansiosa e irritada – em outras palavras, parece uma TPM sem fim.

“Quando a ala feminina descobre que não pode ter filhos, é um choque muito grande e o primeiro pensamento é: ‘Por que justo eu?’”, conta Freitas. Nessa fase de questionamento, a busca por apoio, sobretudo psicológico, faz toda a diferença. “Um psicólogo, por exemplo, irá se preocupar em conhecer a trajetória do casal desde a descoberta da infertilidade até o momento em que decidiu procurar ajuda e avaliar o nível de estresse de ambos”, explica Katia Maria Straube, psicóloga especializada em reprodução assistida, de Curitiba. Com esse tipo de suporte, pouco a pouco a ansiedade e o nervosismo dão lugar à compreensão e a futura mãe aceita, finalmente, que o tratamento é menos assustador do que parece.
 
3 - Tenha em mente que o tratamento pode não funcionar nas primeiras tentativas


Apesar de cerca de 70% dos casais que se submetem as técnicas de reprodução assistida realizarem o sonho de conceber um bebê logo no começo do tratamento, é preciso se preparar para um possível fracasso. De acordo com a Sociedade Europeia de Reprodução Humana, metade dos pacientes desiste se o resultado positivo demora a chegar. “Quando a gravidez ainda parece um sonho distante mesmo depois de várias tentativas, é difícil manter a calma. Mas o importante é não se deixar abalar”, afirma Coslovsky. A crise no casamento gerada por esse desgaste emocional e a pressão social por filhos só tendem a piorar o quadro de ansiedade e estresse. “Nessas horas, a vontade de jogar tudo para o alto e desistir é grande, mas, com o auxílio de um profissional, é mais fácil se reerguer e tentar outra vez”, afirma Cardim.
 
4 - Esteja preparada para a possibilidade de uma gravidez de múltiplos


A chance de ocorrer uma gestação de múltiplos também não deve ser descartada, lembra Kátia. “Atualmente, muitas pessoas já sonham com a chegada de gêmeos, mas isso acaba sendo uma surpresa para a maioria dos casais, que planejaram com todo o cuidado a chegada do primeiro bebê”, diz a psicóloga. “O importante é ter a consciência de que sempre há essa probabilidade.” A preocupação com a gravidez de gêmeos ou trigêmeos é ainda maior quando se leva em conta o fator econômico. “Uma novidade como essa pode causar tanto danos emocionais como financeiros. O casal precisa estar preparado para refazer todos os seus planos e receber a notícia de braços abertos”, orienta Freitas.
 
5 - Poupe para gastar mais do que imaginava


Além das técnicas de reprodução serem caras, é preciso ter sempre em mente que o investimento pode se estender mais do que o imaginado. “Muitas vezes, a mulher terá que tentar outras vezes e gastar não só mais tempo como também mais dinheiro”, lembra Kátia. Porém esse fator não anula o desgaste físico e emocional como o primeiro motivo para abrir mão de ter um filho. Mesmo na Europa, onde clínicas socializadas oferecem até seis tratamentos de fertilização totalmente gratuitos, metade dos casais, em média, desiste após o segundo ou terceiro resultado negativo.

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